Este artigo acompanha, ao longo da primeira metade do século XX, a atividade do Gasômetro de São Cristóvão, fábrica inaugurada na Zona Portuária carioca em 1911 pela Société Anonyme du Gaz de Rio de Janeiro. Para tanto, recorre a uma breve caracterização dos primórdios da iluminação à gás na cidade até sua incorporação ao monopólio de serviços públicos levado a efeito pela empresa canadense Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited (Light), com o objetivo de compreender o intrincado cenário político e social que viabilizou a construção de uma das maiores fábricas de gás à época em funcionamento no mundo. A partir deste caso exemplar, defende-se que a instável simbiose homem-máquina mantida no interior da fábrica de gás constituiu terreno fértil para a atualização do esquema disciplinar e, enquanto tal, foi um ponto de passagem para a utopia da moderna metrópole carioca. Mais além, os fragmentos aqui apresentados, coletados em notícias, reportagens e relatórios internos da empresa, são testemunhos dos êxitos e desafios da empreitada, bem como da reserva de imaginação discursiva que, ao avesso da cidade em desordem, buscou realizar nos espaços produtivos do capitalismo a promessa da razão e do progresso aliados à marcha inexorável da inovação tecnológica.