Partindo do Gasômetro de São Cristóvão, fábrica que por quase um século foi responsável pela produção, armazenamento e distribuição do gás manufaturado à cidade do Rio de Janeiro, este trabalho se expande por três eixos: arquivo, empresa e operação do gás. Através da experimentação arquivística, o primeiro eixo investiga o conceito “arquivo” e a ação “arquivar” enquanto narra as pressões inerentes ao acesso, conservação e destruição de arquivos preexistentes, bem como a criação de um novo, o arquivo-dissertação. O segundo eixo discute os primórdios da Light, conglomerado empresarial estrangeiro que deteve o monopólio dos principais serviços de utilidade pública das duas maiores cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, ressaltando aspectos daquilo que pode ser traduzido por uma cultura organizacional pioneira. O terceiro eixo traça um panorama da operação carioca do gás durante a primeira metade do século XX, recolhendo e reelaborando uma série de discursos obtidos em relatórios empresariais, cartas e notícias, pondo em relevo alguns dos conflitos, temores, desejos de modernidade, mudanças tecnológicas, estigmas sociais e permanências disciplinares que, de uma ponta à outra da rede técnica urbana, envolveram patrões e engenheiros, trabalhadores e trabalhadoras. Do arquivo à empresa, da fábrica que produz o gás ao fogão que o consome, os fragmentos aqui expostos compõem um dizer Arquivo que diz Estado, que por sua vez também diz de certas violências.